sábado, 10 de dezembro de 2011

resoluções


“A minha segunda máxima consistia em ser tão firme e resoluto quanto me fosse possível em meus atos e seguir as opiniões mais duvidosas, desde que me tivesse decidido por elas, com constância não menor do que se elas fossem exatíssimas. Nesse ponto, imitava aos viajantes que, quando se veem perdidos numa floresta, não devem ficar errando de um lado para outro, nem ficar, tampouco, no mesmo lugar, e sim andar em direção tão reta quanto possível, acompanhando o mesmo rumo, sem jamais desviar-se da direção tomada, por motivos fúteis, mesmo quando, a princípio, o acaso tenha sido o fator que determinou a escolha. Se, por esse processo, não atingem o local que desejam atingir, chegarão pelo menos a um ponto no qual, com muita possibilidade, se acharão melhor do que estando no meio da floresta. Deste modo, portanto, como as ações de nossa vida nem sempre permitem um adiamento, é uma verdade muito certa que não existindo a possibilidade de diferenciar as opiniões mais verdadeiras, devemos seguir as mais prováveis e, ainda que não vendo maiores possibilidades em umas mais do que outras, devemos, entretanto, resolvermo-nos por algumas e desde então não mais considerá-las como duvidosas, na proporção em que se refiram à prática, mas como muito verdadeiras e corretas, pois como tal deve ser tida a razão que nos fez resolver por elas. Aí está o que até agora permitiu que eu me libertasse de todos os remorsos e arrependimentos que costumam agitar as consciências de certos espíritos débeis e hesitantes que, na sua indecisão, se deixam levar a praticar como boas as coisas que julgavam, anteriormente, más” .

René Descartes, Discurso sobre o método

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